sábado, 30 de outubro de 2010

O crónico problema da Balança Comercial

Neste meu artigo vou falar de um tema que afecta Portugal há muitos anos e com o qual ninguém parece querer preocupar-se, mas tem, em muito, contribuído para a actual situação de crise em que nos encontramos. Falo do crónico défice da nossa Balança Comercial, para quem não sabe, a diferença entre o valor das Exportações e das Importações, que tem sido constantemente negativo.  
Passo a explicar melhor, com um valor de Importações maior do que o das Exportações, quer dizer que não produzimos o suficiente para o consumo interno, deste modo, temos de importar para podermos satisfazer esse mesmo consumo que excede a nossa produção. Assim, para conseguirmos compensar esta diferença, deveríamos compensar nas outras rubricas da Balança Corrente, nomeadamente nos Serviços e nas Transferências Correntes, o que claramente não acontece.
Desta forma, a solução encontrada passa pelo financiamento, recorrendo ao exterior, ou seja, todos os empréstimos contraídos junto da banca resultam, directamente, no recurso ao exterior para financiar todos os nossos excessos dos últimos 15 anos (carros, casa, férias entre outras excentricidades dos Portugueses), uma vez que a nossa poupança bruta é bastante reduzida, o que se traduz numa poupança líquida negativa, por outras palavras, gastamos mais do que efectivamente produzimos, isto é, os nossos rendimentos (isto falando ao nível do sector privado, o que está em consonância com o sector público).
Indo ao problema de fundo do recorrente défice da Balança Comercial, falamos na questão da competitividade, ou seja, as nossas empresas não conseguem competir com as empresas exteriores, devido a vários factores, nomeadamente ao sistema fiscal e jurídico, ao excesso de burocracia, como também à relativa pouca produtividade dos recursos humanos (em comparação com outros) que o nosso País apresenta. Como vemos, trata-se de muitos problemas que até ao momento não tiveram qualquer resposta credível de ser levada a sério por parte das entidades públicas que têm conduzido o nosso País.
Com isto, mais uma vez percebemos que nos encontramos numa situação insustentável, devido ao crescente endividamento do País como um todo. Estatisticamente, trata-se de uma dívida externa (somatório dos empréstimos contraídos no exterior pelo Estado, por outras entidades públicas e privadas e pelos financiamentos do sector da banca) na ordem dos 225% do PIB, ou seja, cerca de 370,36 mil milhões de euros, no final do 4º trimestre de 2009.
Para o futuro releva-se importante ter em atenção estes aspectos, através do lançamento de políticas de cativação da poupança privada, crescente desburocratização do sistema jurídico e alívio da carga fiscal sobre as empresas dos sectores chave da economia. São aspectos importantíssimos para criar condições adequadas para seguir o rumo do crescimento económico convergente com a União Europeia.
Deixo para último um aspecto que considero fundamental e no qual o Governo actual tem apostado, a formação das pessoas com níveis de escolaridade mais baixos, ainda que tenha agido de forma incorrecta com o que acho o grande ponto negro (As Novas Oportunidades). A ideia é importante, é crucial alertar para a necessidade do aumento de qualificações da população, contudo a mesma deve ser eficaz, ou seja, deve-se reflectir num aumento REAL das qualificações e não apenas oferecer um diploma de 9º ou 12º ano, que é o que tem acontecido em bastantes casos conhecidos.
O aumento dos índices de educação é necessário, uma vez que tal se reflecte num acréscimo da produtividade e Portugal deve apostar nesse factor, uma vez que a vantagem comparativa dos salários baixos há muito se perdeu. É bastante importante que se mude os objectivos, procurando algo no qual possamos fazer a diferença e acabar com os problemas estruturais, nomeadamente o da Balança Comercial, visto como crónico.

1 comentário: